Um conto de terror carnavalesco

Memórias (nem tão antigas assim) de um jovem sambista
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David Daniel Macêdo
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2:24 PM
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No fim do século XIX e nos primeiros anos do século XX, num momento em que o Rio de Janeiro passou por uma série de transformações na estrutura urbana e o samba se fixou na cidade, a presença das chamadas "tias" baianas foi da maior importância.
O fluxo de imigrantes baianos aumentou consideravelmente com a Abolição da Escravatura, pois estes vinham para cá em busca de melhores condições de vida. Entretanto, não foi apenas por ser a capital da República que o Rio foi procurado, mas também porque os negros baianos já identificavam a cidade com as suas origens. Começaram a se fixar na zona portuária da cidade conhecida por “Pequena África”, compreendida pelos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo.
A reforma urbana elaborada pelo prefeito Pereira Passos, colocou abaixo as construções na zona portuária e imediações, obrigando a “baianada” a se deslocarem para a Cidade Nova, se concentrando nas imediações das ruas Visconde de Itaúna, Senador Eusébio, Marquês de Sapucaí e Barão de São Félix e do largo de São Francisco.
É nesse cenário que surge a figura das “tias baianas”, verdadeiras guardiãs da cultura popular que elas mesmas transportaram de Salvador para o Rio de Janeiro. Eram sacerdotisas de cultos e ritos herdados de ancestrais africanos, festeiras, mestras na arte do samba, versadoras, improvisadoras, cantadeiras, passistas e cozinheiras absolutas, mantendo por dias os fogões acesos e os quitutes quentinhos para os que vinham "brincar o samba" em seus casarões, em festanças que chegavam a durar uma semana.
As tias baianas eram líderes comunitárias e se agrupavam em torno de pequenas corporações de trabalho, como o comércio de doces e salgados, costuras e aluguel de roupas carnavalescas. Nas esquinas, praças, largos, becos, estação de trem, porta das gafieiras, elas eram presença obrigatória, já fazendo parte do cotidiano carioca. Nas festas tradicionais das igrejas, como as da Penha e Glória, também compareciam com as suas barracas de comida típica.
O “ponto” da tia Tereza, situado no largo de São Francisco, era local de encontro de políticos e jornalistas de renome. No seu tabuleiro, funcionava um “verdadeiro restaurante” com cardápio específico para cada dia da semana. Segundo um dos seus freqüentadores, o jornalista Francisco Guimarães, o Vagalume, foi graças à intervenção de clientes influentes que se impediu que o “restaurante” da baiana fosse posto abaixo pela polícia. O jornalista ainda observa que era ao redor dos tabuleiros que se sabia das coisas: lá que se construía toda uma rede de relações que informava, amparava, divertia e ampliava os contatos.
No morro da Mangueira, as tias Tomásia e Fé já tinham os seus próprios blocos carnavalescos, onde saíam os seus `filhos de santo', com elas à frente, sempre vestidas de baiana”. Na casa de Tia Bibiana, era realizado o concurso dos primeiros ranchos. As tias eram reverenciadas, e os ranchos pediam sua proteção e bênção antes de sair para a folia. Esse compromisso era tão sério que os ranchos que não o cumprissem à risca acabavam desconsiderados: “Era como se não tivessem saído no Carnaval”, segundo depoimento de Donga (Jota Efegê, 1982).
Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, era casada com João Batista da Silva, um negro também baiano que havia cursado medicina em Salvador e ocupava bons empregos no Rio. A famosa casa de Tia Ciata, era um local de encontros, música, dança, cura, conversas, criatividade e trabalho. Para fugir da perseguição da polícia que não permitia o samba porque era considerado coisa de marginal, usava-se o disfarce do choro na sala da frente e sambava-se à vontade no quintal. Diz-se, inclusive, que o primeiro samba, “Pelo Telefone” de Donga e Mauro de Almeida, foi feito em sua casa em 1916.
Entre os freqüentadores da casa estavam músicos como Donga, João da Baiana, Pixinguinha, Sinhô, Caninha e Heitor dos Prazeres e alguns jornalistas e intelectuais, como João do Rio, Manuel Bandeira, Mário de Andrade e o assíduo cronista Vagalume. A casa da Tia Ciata denota bem a questão da circularidade cultural, atraindo elementos da classe média carioca. Geralmente eram carnavalescos da Zona Sul que iam encomendar fantasias e acabavam ficando para o pagode.
Podemos concluir que através do samba, do Carnaval e da culinária, a cultura negra foi ganhando espaços no conjunto da sociedade, fazendo-se aceita. Os códigos culturais começaram a se entrecruzar, mesmo que de forma precária. E, geralmente, o centro irradiador dessa cultura era a casa das tias como Tia Tereza, Fé, Tomásia, Bibiana, Ciata, Preseiliana, Veridiana, Josefa Rica e tantas outras mais.
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David Daniel Macêdo
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9:23 AM
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Estava vendo algumas fotos de carnavais antigos na Revista Manchete (que era um vedadeiro show de imagens) e topei com essa foto que me chamou a atenção por alguns pequenos detalhes.
Olho para essas mulheres da foto e reparo o quanto as coisas mudaram de 1983 para cá. Naquela época as mulheres ainda eram mais naturais e menos artificiais. Se essa foto fosse tirada hoje, essas belas mulatas estariam de cabelo super alisado por escova progressiva, com prótese de silicone nos seios, lente verde nos olhos, bronzeamento artificial. Podem me chamar de saudosista mas eu prefiro elas do jeito que estão na foto.
Infelizmente, as mulheres de hoje em dia fazem o possível e o impossível para ficar mais atraente para os homens e não percebem que ocorre um efeito contrário. Acabamos vendo-as como máquinas de prazer, perfeitas, sem nenhum defeito, mas que depois se tornam obsoletas, como qualquer máquina, à medida que a tecnologia vai evoluindo. No caso aqui, a evolução consiste em aparecer uma outra mulher com uma prótese maior ainda nos seios, ou uma senhora de 50 anos que faz uma plástica e se torna praticamente uma garotinha de 18 e obriga você a jogar fora a sua mulher 3.0.
Sinto saudade das mulheres com um pouco de barriguinha, com corpo moreno de praia, com os cabelos encaracolados e seios carnudos. Sinto saudade das mulheres de verdade e dos verdadeiros carnavais...
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David Daniel Macêdo
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10:42 AM
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Desde criança moro na Tijuca, próximo ao Morro do Borel e Morro da Formiga. Durante muitos anos, haviam grupos criminosos inimigos nas duas favelas e os tiroteios eram frequentes. Mas como aqui não é coluna policial eu vou falar é de Carnaval, já que na década de 80, acontecia um fato curioso aqui no bairro. A Unidos da Tijuca (escola do Morro do Borel) e a Império da Tijuca (do Morro da Formiga) viviam se alternando no Grupo Especial. Como as duas agremiações não aspiravam ao título a briga mesmo era pra ver quem ia cair.
Em 80, ambas estavam no Grupo I-B e a Unidos conseguiu subir pro I-A. Em 81 a Império ganhou no I-B e em 82 as duas desfilaram juntas no I-A. Nos anos seguintes, ora uma caía ora a outra subia. Em 87 a Império desceu do Grupo Especial e a Unidos ganhou no B se credenciando para desfilar em 88 no Especial. A partir desse ano a Unidos da Tijuca começou a se estruturar melhor e se manteve no Especial, voltando a cair somente 10 anos depois em 98. Mas foi só um acidente de percurso e ela retornou rapidamente ao Especial em 2000. A Império da Tijuca, por sua vez, só conseguiu subir para o Especial em 96 mas caiu pro Grupo de Acesso nesse mesmo ano, e desde então vem enfrentando muitas dificuldades financeiras para fazer um bom papel no grupo de elite.
Eu presenciava essa "guerra" particular entre as duas escolas no dia da apuração. Quando a Unidos permanecia no grupo principal era aquela festa no Morro do Borel e nas redondezas com direito à fogos de artifício e carros buzinando na rua. Se ouvia também alguns tiros, mas eram apenas pessoas que estavam muito felizes. Se a Unidos se mantinha no Especial e a Império descia então, a festa era maior ainda. Do outro lado, acontecia a mesma festa por parte do pessoal do Morro da Formiga quando a Império ficava no Especial e a Unidos caía. Enfim, eu acompanhava esse sobe e desce e achava muito interessante ver as manifestações locais.
A Unidos da Tijuca nos últimos anos tem feito belos carnavais, alcançando 2 vice-campeonatos em 2004 e 2005 e a Império da Tijuca parece que aos poucos vem se reestruturando. A escola foi campeã do grupo de Acesso B em 2006 e com um belo desfile conseguiu permanecer no Grupo A em 2007. As duas favelas, ao contrário de outros tempos, atualmente pertencem à mesma facção criminosa. Quem sabe as agremiações não unem suas forças e em breve poderemos ver as duas escolas tijucanas juntas no Grupo Especial? Sonhar não custa nada. Mas isso já é outro samba...
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David Daniel Macêdo
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1:36 PM
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Em 1986 eu me lembro do samba da Mocidade cujo refrão dizia: "O Luar clareia / Clareia deixa clarear (clarear) / Meia-noite, lua cheia / Ô tem magia no seu jeito de olhar". Ouvia muito esse refrão porque as lojas de discos vendiam o LP do Carnaval de 86 e executavam muito a faixa da Mocidade, porque ela tinha sido campeã em 85 com Ziriguidum 2001.
Outro samba que desse ano que eu lembro foi o da Mangueira e hoje em dia eu acho engraçado me lembrar disso. Como eu ainda era muito pequeno, não conseguia entender a palavra que o Jamelão dizia no refrão, então eu acabava cantando: "Tem xixi e acarajé / Tamborim e samba no pé". O mais engraçado é que eu estava conversando com minha amiga Poli e ela disse que também cantava dessa maneira. A Mangueira foi campeã naquele ano, o samba ficou na boca do povo e eu continuei cantando "xixi" ao invés de "ximxim" por muito tempo.
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David Daniel Macêdo
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10:12 AM
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David Daniel Macêdo
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9:52 AM
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David Daniel Macêdo
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