10 de maio de 2007

Ô abre-alas que eu quero passar...


Morar no Rio de Janeiro é um privilégio para poucos no mundo. A cidade é maravilhosa não só por suas belezas naturais mas também por sua gente com seu jeitinho carioca de ser. Entre tantas coisas que caracterizam a cidade e seu povo, se destacam o carnaval e o desfile das escolas de samba, pelos quais tenho grande paixão.

Acredito que minha ligação com o carnaval vem desde o momento que meus pais me geraram, já que nasci no mês de novembro, ou seja, nove meses depois do carnaval. Foi por volta dos três anos que meus pais me levaram pela primeira vez na Avenida Presidente Vargas para ver os carros alegóricos enfileirados antes do grande desfile das escolas de samba. Eles já tinham esse costume antes mesmo do meu nascimento.

As minhas primeiras lembranças desses passeios são do ano de 1985, ou seja, um ano depois do Sambódromo ser inaugurado. Eu ficava encantado com todo aquele clima e lembro que me aproximei das alegorias da Mocidade Independente no momento em que a escola estava se organizando e começava a andar com carros alegóricos na área de concentração. Um dos diretores me viu, me deu uma bronca e me tirou dali, me levando de volta para os braços dos meus pais. No ano seguinte, em 1986, fiquei fascinado por um carro alegórico da Beija-Flor que trouxe uma enorme bola de futebol. Era ano de Copa do Mundo e eu já acompanhava o futebol e a seleção brasileira apaixonadamente como qualquer brasileiro.

Outra boa lembrança era a de caminhar com meus pais pela Rua da Alfândega onde via todo aquele comércio de fantasias e artefatos ligados ao carnaval, enquanto ouvia o LP com os sambas-enredo do ano que as lojas de discos vendiam. Após muita insistência, meus pais compravam o disco. Ao chegar em casa, eu ouvia os sambas incansavelmente até saber cantar todos. Muitas vezes, colocava o LP para tocar e chamava minha mãe para juntos ensaiarmos passos como um autêntico casal de mestre-sala e porta-bandeira.

Eu tinha apenas sete anos, e, apesar da minha inocência, eu queria de alguma forma participar do desfile, mas, por incrível que pareça, isso só veio acontecer quase vinte anos depois. Entretanto, durante esse tempo muitos carnavais se passaram e são muitas as lembranças.

Em 1989, me tornei torcedor da Imperatriz Leopoldinense, que naquele ano ganhou o Carnaval com o enredo “Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós”. O samba de refrão envolvente e o desfile com alegorias e fantasias lindíssimas não me deixaram outra escolha a não ser acolher aquela agremiação dentro do meu coração.

Durante muitos anos viajei com meus pais no período de Carnaval, mas nunca deixei de acompanhar os desfiles pela televisão. No início do desfile, algumas pessoas me faziam companhia na sala de TV do hotel, mas conforme o tempo ia passando as pessoas iam se recolhendo ao seus quartos. Ao longo da madrugada, com o dia já amanhecendo, lá estava eu sozinho lutando bravamente contra o sono e acompanhando os desfiles até o final. No dia seguinte, buscava nos jornais as informações para saber quem eram as favoritas, quem perdeu pontos, os bastidores dos desfiles etc. No dia da apuração, arrumávamos as malas, colocávamos no carro e nos reuníamos na sala da TV para acompanhar a divulgação das notas. Só após o resultado retornávamos para casa. Chegávamos no Rio de Janeiro à noite e através da janela do carro eu sentia aquele clima de festa e decepção no ar e via pedaços de alegorias e fantasias pelo chão das ruas do centro da cidade.

Chegando à adolescência, as viagens de carnaval passaram a ser com os amigos, mas o hábito de acompanhar o que acontecia no Rio não mudou. Curtia muito as festas e os agitos do lugar durante o dia mas quando chegava a um certo horário da noite eu abandonava tudo e me recolhia ao quarto do hotel, a um quiosque ou a qualquer lugar que tivesse uma televisão para poder acompanhar, ao menos, o desfile da minha querida Imperatriz.

Depois de muitos anos lamentando o fato de não nascer em berço de sambistas e de não ter amigos que curtissem o carnaval carioca, o que acabava me desanimando de desfilar, recebi um convite de um amigo que estudou comigo no segundo grau para desfilar no Império Serrano em 2004. Aceitei na horam, até porque naquele ano a escola de Madureira estava reeditando “Aquarela Brasileira” um dos sambas mais famosos e bonitos da história. Finalmente chegou o grande dia do desfile e minha estréia na Sapucaí foi espetacular. Uma explosão de prazer e felicidade acontecia dentro da minha fantasia de cangaceiro enquanto o samba levantava as arquibancadas do Sambódromo. Foi inesquecível. A minha vontade era de correr para o início do desfile e pegar o final da escola para poder passar pela avenida mais uma vez. Desejo que só foi realizado no ano seguinte desfilando dessa vez pela Unidos da Tijuca.

Após o carnaval de 2005 eu resolvi me aventurar dentro do mundo do samba ao me inscrever no Tamborim Sensação, uma escolinha de percussão que forma ritmistas para compor as baterias das escolas de samba. O que começou como uma brincadeira acabou se tornando uma realidade. A rotina de ensaios me fez conquistar muitas amizades e chegar ao meu objetivo. No Carnaval de 2006 desfilei em cinco escolas de samba, nas baterias da Estácio de Sá, Império da Tijuca e Paraíso do Tuiuti enquanto que na Unidos da Tijuca e na Imperatriz atravessei a passarela brincando em ala. Foi uma emoção muito grande desfilar na minha escola de coração, embora ela tenha feito um desfile fraco e obtido apenas a nona colocação. Entretanto, fui campeão na Estácio e na Império da Tijuca, pelos grupos de Acesso A e B, respectivamente.

O que demorou quase vinte anos para acontecer virou mania. Em 2007 desfilei em seis escolas de samba: Imperatriz, Estácio, Unidos da Tijuca, Império da Tijuca, Tradição e Vizinha Faladeira. Dessa vez não fui campeão em nenhuma escola, mas o mais importante foi a enorme quantidade de amigos que fiz nesse período. O carnaval passa, as amizades ficam. Para o próximo ano vou continuar meu mergulho no mundo carnavalesco já que minha monografia terá como assunto esse universo das escolas de samba e do carnaval. Estou adquirindo vários livros e lendo sobre o assunto que deve se desdobrar em vários estudos independentes daqui para a frente. Quanto a desfilar em 2008? Vocês têm alguma dúvida? É claro!

Um comentário:

Anônimo disse...

É MUITA SORTE MORAR NO RJ, COM TANTA COISA LEGAL PARA FAZER EO CARNAVAL ENTÃO UN DOS MAIORES ESPETÁCULOS DA TERRA,AQUI EM BH NÃO TEM NADA DISSO FAZER O QUÊ?